A seguir serão apresentadas as evidências do envolvimento do Programa Apollo nas questões religiosas. Em seguida será demonstrado como surgiu o mito de Jesus Cristo, baseado em pesquisas recentes pouco divulgadas. Nos capítulos seguintes serão apresentadas as evidências da origem romana desse mito.
Sir Hiram Maxim e a religião
O já citado Sir Hiram Maxim (ele foi citado no capítulo 11 do livro, que não mostramos aqui) escreveu o livro Li Hung Chang's scrap-book, publicado em 1913. O livro foi dedicado ao general e estadista chinês Li Hung Chang, que inicialmente havia se encontrado com Maxim para tratar da compra de metralhadoras. O livro também era um alerta aos missionários cristãos na China, tendo trechos de vários autores escolhidos, tratando principalmente dos malefícios do cristianismo. A introdução apresentou comentários do próprio Maxim, onde ele citou que na China quase todos os homens da classe oficial são seguidores do antigo filósofo chinês Confúcio (551–479 a.C.) que fez a seguinte advertência (traduzida): "Nunca tenha proximidade com aqueles que pretendem ter contatos com o sobrenatural. Se você permitir que práticas sobrenaturais consigam atuar no seu país, o resultado será uma calamidade terrível".
Maxim relatou que, por acaso, participou de um debate quando esteve nos EUA. No início, em uma pregação, os defensores do cristianismo comentaram que o povo chinês era exemplar e depois afirmaram que só os chineses que tomavam conhecimento do cristianismo e não o aceitavam teriam o castigo eterno. Maxim entrou no debate e perguntou se não seria melhor não ensinar essa crença aos chineses, evitando o castigo eterno para eles, mas isso causou até agressividade contra ele.
Maxim mencionou que o cristianismo surgiu de uma mistura de antigas crenças pagãs, algumas originárias da Índia e da China. Ele descreveu sua crença, que podemos considerar como semelhante à de Espinoza, que considerava que Deus está na própria Natureza sendo, portanto, uma Religião Natural, pois não se baseia em supostas revelações de entidades espirituais. Maxim citou que (naquela época) a França, Portugal, Itália, Espanha e alguns países da América do Sul se livraram do jugo da Igreja. Entre os trechos escolhidos de outros livros, há a citação de que (naquela época) nos EUA, em Londres e em Berlim os que frequentam a Igreja e acreditam em seus dogmas são apenas cerca de 25% da população e que isso não surpreende em uma época de boa educação geral. Ele continuou descrevendo as inconsistências do cristianismo e terminou com um apelo aos missionários para que parem com o que ele chamou de ‘propaganda falha’ na China.
Wernher von Braun, sua carreira e sua religião
Muito antes do presidente Kennedy anunciar oficialmente a ida de astronautas à Lua, Wernher von Braun já planejava isso. A seguir temos um trecho de um texto sobre ele:
Von Braun deixou a NASA em mai. 1972 e se tornou um executivo da Fairchild e em 1974, já estando com a saúde debilitada, propôs à professora Carol Rosin que o ajudasse a divulgar um alerta sobre os gastos e o perigo de armas espaciais.
Em 1946 von Braun participou de um culto religioso em El Paso no Texas e consta que se converteu à religião evangélica. Depois disso, exceto em 1966, ele não comentou publicamente sobre religião durante muito tempo. Após ter sido o principal cientista de projetos militares e de ter participado do Programa Apollo, mais tarde em sua vida ele passou a frequentar a Igreja Episcopal e começou a se interessar mais pela religião, como explica o texto a seguir:
Levar o evangelho a outros mundos não é uma boa ideia: os textos de Sir Hiram Maxim mostraram um lado negativo da divulgação do cristianismo. Sobre os supostos ensinamentos da Bíblia eis um trecho do nosso livro Milenar Religião Natural:3
Durante séculos os católicos praticamente não liam a Bíblia e a Igreja Católica, se apoiava, na parte de moral e bons costumes, no sistema de leis que os antigos romanos desenvolveram, mesmo com seus defeitos. Apesar disso, nossa civilização é chamada por muitos de cristã. Com o declínio atual do catolicismo, as novas religiões cristãs tentam encontrar respostas para problemas atuais se valendo de opiniões oriundas da Bíblia. Eis os comentários feitos pelo escritor Mark Twain (1835–1910) sobre a Bíblia:
Ainda no nosso livro citado, selecionamos, no capítulo 9, o seguinte trecho sobre a origem das leis atuais:
Podemos admitir que von Braun se preocupou com ideias religiosas, que na época pareciam se dividir entre o cristianismo e o ateísmo. Era o receio de que o ateísmo apoiado pela URSS comunista pudesse se difundir. Essas duas alternativas já haviam sido apresentadas durante a Revolução Francesa (1789–1799) e grande parte do povo não escolheu nenhuma delas e sim a Religião Natural, conforme mostra o seguinte texto daquela época, mencionando sua grande aceitação na França, embora baseada na ideia de que Deus interfere no Mundo, sendo nisso diferente da que acreditamos:
No cap. 10. Napoleão contra a Religião Natural, do nosso livro citado, apresentamos os fatos históricos sobre como a Religião Natural desapareceu da França. O título já sinaliza a causa principal para o desaparecimento, mas o texto apresenta fatos pouco divulgados.
Em 1966 von Braun foi entrevistado por um pastor evangélico pentecostal em Huntsville, Alabama. Ele ficou impressionado e disse que “notou pregadores humildes dirigindo ônibus de segunda mão que lideravam congregações prósperas" e “Aqui está uma igreja crescente e agressiva e não uma instituição solene, meio morta. Aqui está a vida espiritual”. A entrevista completa foi publicada em um folheto de 17 páginas pela editora cristã pentecostal Assemblies of God (Assembleias de Deus). Foram distribuídas cerca de 500 mil cópias desse folheto em vários idiomas.
As igrejas que nunca existiram antes
O cristianismo pentecostal é uma religião que 'nunca existiu antes' do século vinte (com essa forma) e merece ser visto com o mesmo cuidado com que muitos observam o islamismo, por ter características que passam desapercebidas pela maioria da população. O movimento pentecostal surgiu em 1906 em Los Angeles com o chamado 'Reavivamento da Rua Azusa'. No cap. 3 do nosso livro citado, reproduzimos os textos dos jornais da época descrevendo esses acontecimentos (esses textos podem ser encontrados na internet) e comentamos que:
Há relatos de outras igrejas cristãs que tiveram avivamento, ou seja, uma maior intensidade de religiosidade de seus seguidores, mas essa de 1906 se destacou na imprensa. Se isso tivesse acontecido no Brasil seria logo identificado como uma manifestação mediúnica de religiões de origem africanas. Como os norte-americanos não estavam acostumados, isso chamou a atenção deles e acabou chegando ao Brasil como uma grande novidade. As igrejas que surgiram baseadas nela tiveram crescimento lento antes do ano 2000, mas depois começaram a crescer rapidamente, principalmente no Brasil e de modo até surpreendente. Essas igrejas se classificam em pentecostais e neopentecostais e ambas apresentam muita força espiritual nos seus cultos e seus seguidores às vezes têm comportamentos semelhantes aos descritos no texto sobre o avivamento da rua Azusa. Essa união dos ritmos de origem africana ao cristianismo é apresentada como sendo apenas culto cristão (o que é uma espécie de eufemismo) pois caso contrário teria pouca aceitação.
Ainda no capítulo 3 há o seguinte trecho:
Nas “igrejas que nunca existiram antes” o “ritmo para evocar os orixás” serve até como referência, pois as que têm mais atividades com esse ritmo e juntam isso ao “eufemismo religioso”, são consideradas mais fortes e se supõe que nelas acontecem milagres, ao contrário das igrejas fracas, que têm pouco desse ritmo e não fazem milagres. Obter riqueza, conseguir qualquer emprego, ter saúde, sucesso no esporte, etc., cada objetivo passou a ter seu eufemismo religioso. Se, por exemplo, apenas duas pessoas se candidatem a um emprego e uma delas é menos qualificada, mas pediu ajuda espiritual, essa pessoa menos qualificada consegue o emprego. Se não fosse assim, não haveria motivo para essas igrejas anunciarem sua interferência.
O avivamento fora do cristianismo pentecostal
O catolicismo promove a chamada ‘teologia da prosperidade’ com objetivos semelhantes ao descrito acima. A prosperidade citada não é obtida pela grande maioria de seus fiéis e sim por uma minoria. Como exemplo, podemos citar a seleção equatoriana de futebol que tem surpreendido pelo seu bom desempenho nos torneios de seleções que participou nos últimos anos. O Equador é um país quase totalmente católico, mas uma minoria da população, habitantes das regiões pobres do país, recebeu doutrinação permitindo a mistura dos rituais africanos aos costumes católicos e foi desses locais que depois saíram quase todos jogadores da seleção. A interferência de entidades espirituais não é algo novo. A força obtida assim pode ser retirada diante de qualquer sinal de que os favorecidos mudem de ideia.5
A origem e a divulgação de um mito
Existem diversos estudiosos dos EUA que nasceram em alguma tradição cristã protestante e chegaram à conclusão de que Jesus existiu mas não era divino. Eles nem sequer levam em consideração a possibilidade de que a origem do mito de Jesus possa ter sido em Roma. O fato do protestantismo só ter surgido após cerca de 1.500 anos de catolicismo não parece ter muita influência nas orientações das pesquisas deles. Alguns desses estudiosos participaram de vídeos sobre a vida de Jesus Cristo. Geralmente esses vídeos procuram passar a ideia tradicional de que Jesus existiu e foi realmente divino. Os produtores desses vídeos preferem a presença desses estudiosos em vez de qualquer autoridade religiosa para dar a ideia de que a divindade de Jesus é reconhecida. Nos vídeos eles até são confundidos com os cristãos, principalmente porque os produtores têm o cuidado de evitar que eles mencionem que não acreditam na divindade de Jesus.
O Smithsonian e a suposta ida à Lua
O Smithsonian (Instituto Smithsoniano), criado em 1846 "para o aumento e difusão do conhecimento", é um grupo de museus e centros de pesquisa administrados pelo governo dos EUA que participou do início da NASA e manteve durante anos uma polêmica sobre a invenção do avião, (como foi citado no capítulo 11 do livro, que não mostramos aqui).
As estatísticas mostram que, fora dos EUA, cerca da metade da população está cética sobre a questão de homens terem ido à Lua, como mostrou a Simple English Wikipedia no tema Moon landing conspiracy theory de 22 fev. 2010, que apresentou uma respeitável relação de resultados de pesquisas de opinião em vários países (esses dados foram retirados da página, mas podem ser acessados pelo histórico dessa Wikipédia). Entretanto, o Smithsonian publicou o livro Moon Lander de Thomas Kelly, descrevendo a total confiança dele de que o Programa Apollo foi um sucesso, graças ao suposto desempenho perfeito do Módulo Lunar. Isso contraria as conclusões mostradas anteriormente de que provavelmente o Módulo Lunar (completo ou somente a parte superior) não conseguiria sequer voar a pequenas distâncias, nem na Terra nem na Lua.
O Smithsonian e a suposta divindade de Jesus Cristo
As estatísticas mostram que dois terços da população mundial não pertencem ao cristianismo e que grande parte dos europeus que se declaram cristãos consideram que muitos relatos da Bíblia são apenas fábulas. Nos países que seguem outras religiões, são raros os pesquisadores que se interessam pelos relatos da Bíblia. Os religiosos católicos não costumam ler a Bíblia, acreditam em diversas tradições antigas, são devotos de santos e santas, da Virgem Maria, veneram imagens e acreditam no papa. Os protestantes tradicionais acreditam somente na Bíblia e muitos pentecostais têm fé em objetos variados comprados de pastores. Mesmo com tantas opiniões diferentes, O Smithsonian lançou em 2017 uma série de quatro vídeos sobre a vida de Jesus, com o título de The Real Jesus of Nazareth com Robert Powell, o veterano ator que fez o papel de Jesus no filme Jesus de Nazaré de 1977. Powell não tinha religião, mas depois de atuar no filme se tornou cristão.6
Quando uma instituição que tem o objetivo de difundir o conhecimento se aventura em uma questão religiosa, espera-se que o tema seja apresentado considerando todos os pontos de vista, o que não acontece com essa série. O objetivo parece ser mostrar, em forma de documentário, os locais onde aconteceram os fatos citados nos evangelhos, mas que o filme de 1977 tinha imprecisões que agora seriam corrigidas. A série vai contornando a questão da divindade de Jesus e nem sequer os apresentadores dão suas opiniões a respeito. Entretanto, Powell diz na série (se referindo a Jesus) "é uma glória saber que, mesmo não morando aqui, ele andou por aqui, e eu acho isso extremamente excitante". Mostrar onde supostamente Jesus esteve provoca uma situação imprevista, pois se Jesus nunca existiu (isso será esclarecido mais adiante), muitos desses locais são criações de oportunistas que exploravam (e exploram) a fé do povo.
Entre as autoridades da série que não mencionaram suas próprias crenças, três se destacam. A doutora Candida Moss (católica) é especialista em Novo Testamento (NT). A professora Helen Bond (crença ignorada) também é especialista em NT. O principal especialista da série é Bart Ehrman, estudioso do NT nascido nos EUA em 1955 (era cristão, depois agnóstico e agora ateu). Ele acredita que Jesus existiu, mas não era divino. Para efeito prático, não há diferença em acreditar que Jesus existiu, mas não era divino ou que nunca existiu. Mesmo assim, Ehrman publicou em 2012 o livro Did Jesus Exist? criticando os pesquisadores que demonstram que Jesus nunca existiu (no livro ele admitiu que desconhecia essa hipótese). Em resposta, alguns pesquisadores publicaram em 2013 o livro Bart Ehrman and the Quest of the Historical Jesus of Nazareth.
No capítulo anterior mostramos a religiosidade envolvida e também porque isso é motivo de preocupação dentro do atual cenário em que a religião não é encarada da maneira correta por grande parte da população. É necessário completar o esclarecimento mostrando claramente como surgiu o mito de Jesus Cristo. Quem não quer sequer imaginar que Jesus foi um mito e não pretende ler o resto do texto, não perderá nada em relação ao Programa Apollo, pois a partir deste capítulo e até o final do livro somente será apresentada a questão religiosa. Existem muitas evidências sobre como foi o surgimento do mito de Jesus. Muitos pesquisadores e pesquisadoras já escreveram questionando a divindade dele e, entre os que afirmam que Jesus nunca existiu, vamos apresentar principalmente os trabalhos de Francesco Carotta e Joseph Atwill. Mostraremos detalhes do que eles descobriram nos últimos anos apresentando fatos novos sobre esse tema. Os trabalhos de Carotta e Atwill demonstram que o mito de Jesus Cristo se originou em Roma. Eles mostraram partes importantes da criação do mito, mas focando em épocas diferentes, de modo que não se contradizem e sim se complementam.
Acharya S foi uma pesquisadora cujos trabalhos, que consideramos importantes, serão apresentados em outro capítulo. Ela teve um diálogo com J. Atwill e depois, em um artigo, mencionou acreditar que ele solucionou uma parte do enigma da criação do mito de Jesus.1
O culto do Divus Iulius e Divi filius
Francesco Carotta escreveu o livro Jesus was Caesar (Jesus era César) mostrando que, em todo Império Romano, desde o assassinato de Júlio César em 45 a.C. até aproximadamente 70 d.C., houve o seu culto como Divus Iulius nos templos chamados de caesarea e também houve o culto do Divi Filius, que reverenciava Otávio Augusto nos templos chamados de augustea. Essa devoção não era igual em todo Império, sendo menor em Roma e maior principalmente onde a presença de César tinha sido mais proeminente, como nos seguintes locais: Gália, especialmente no Cisalpina, o Narbonensis, em Alexandria, e em Antioquia. O culto era ainda mais acentuado nas colônias de seus veteranos: Filipos, Perusia, Éfeso, etc. Na Judeia (província romana que incluía o antigo reino de Judá e outros territórios) houve uma transposição de nomes de locais onde César se destacou e foram fundadas as colônias: Galileia, cujo nome foi uma referência à Gália; Cafarnaum foi uma referência à Corfinium, etc.2
Nos locais onde aconteceram essas transposições eram promovidos os textos sagrados sobre Júlio César, reverenciado como distribuidor de terras e mártir. Ele foi considerado amigo e defensor dos judeus, que lamentaram sua morte. César não tentou mudar a religião deles e os imperadores seguintes seguiram essa diretriz. Assim mesmo eles procuraram levar a memória de César aos judeus, não como um ser divino, mas como estando no mesmo nível de personagens históricos deles. César poderia ser visto pelos os judeus como um novo Moisés ou um novo Josué. Na Septuaginta, a mais antiga tradução em grego do Velho Testamento (VT) feita no século III ou II a.C., a tradução do nome Josué é Joshua (Jesus). Mas tudo isso terminou subitamente de um modo que será descrito mais adiante. Antes será apresentado algo mais sobre o culto do César deificado.
A liturgia do Divus Iulius
Segundo Carotta, as vitórias de César foram consideradas obtidas por Deus, e a celebração litúrgica dessas vitórias se tornou a aclamação de seus milagres. Provavelmente foi escrita uma vita Divi Iulii para uso litúrgico, baseada em citar sua vida, milagres e morte. A liturgia do Divus Iulius consistia na celebração dos aniversários de suas vitórias, que eram lembradas e veneradas como milagres. Ele ganhou mais de trezentas delas, e a maioria era celebrada em mais de um dia e assim havia alguma celebração praticamente todos os dias.
Carotta explicou que existiam dois textos importantes que deram origem ao mito de Jesus. O texto inicial do que seria posteriormente o Evangelho de Marcos foi escrito por Marco António, cujo envolvimento com a religião se confirmou principalmente no início de 44 a.C. quando o Senado Romano decidiu que César iria receber uma apoteose (elevação à categoria de deus) oficial e que seu nome de deus seria Iupiter Iulius. Durante a mesma sessão também foi decretado que António seria designado como o primeiro flamen Divi Iulii, o sacerdote do divino Júlio César. O texto de António foi feito de modo simplificado, relacionando César aos acontecimentos em Roma. Pela tradição, se afirma que esse texto em latim foi escrito em Roma 12 anos depois da ascensão do Senhor (referindo-se a César). O texto inicial do que seria posteriormente o Evangelho de João, deve ter sido de autoria do filho adotivo de César, Otaviano (63 a.C.–14 d.C.), nascido Caio Otávio. Chamaremos ele de Otávio para a época antes de ter sido adotado; Otaviano após ter sido adotado; novamente Otávio a partir de quando ele se envolveu na disputa pelo poder em Roma; por fim, chamaremos ele de Otávio Augusto, ou apenas um desses dois nomes a partir de quando ele se tornou imperador. Ele se considerava o herdeiro exclusivo de César, o que explica a frase “Tudo o que o Pai tem é meu” em João 16:15, e explica também porque, sendo ele mais amado por César (do que António), depois passou a ser o apóstolo mais amado de Jesus. Na época que César morreu, Otaviano era muito jovem, em latim iuvenis, que deve ser a origem do nome italiano Giovanni, que em português é João.
Atwill encontrou outra possível origem de João citado nos evangelhos, pois ele seria um rebelde religioso judeu capturado durante a guerra. João teria colaborado e seria considerado amado por Jesus em uma analogia. Provavelmente esses acontecimentos foram acrescentados ao primitivo texto romano de Otaviano. Simão também seria rebelde religioso judeu capturado durante a guerra, que morreria como um mártir, como será explicado mais adiante.
O Começo real do cristianismo
O culto de Divus Iulius, juntamente com o de Divi Filius, desapareceu de repente, com o advento do cristianismo e, assim, caesarea e augustea se tornaram as primeiras igrejas cristãs. As estátuas de Jesus substituíram as estátuas de Divus Iulius e Divi Filius. As outras igrejas cristãs primitivas conhecidas tomaram o lugar dos antigos templos das várias deusas mãe – sobretudo os templos de Vênus - que foram especialmente sagrados para o clã Juliano e se transformaram em igrejas da Virgem. Isso aconteceu nos locais que o apóstolo Paulo teria convertido seus habitantes ao cristianismo. Seria difícil de Paulo ter sido o responsável por essa mudança súbita de religião em locais vigiados por Roma, mesmo porque para pessoas racionais os argumentos dele eram fracos.
Uma dinastia com poderes sem precedentes
Somente uma pessoa ou grupo de pessoas com poderes absolutos poderia remover uma crença estabelecida e substituí-la por outra sem permitir contestações. Ora, a dinastia Flaviana alcançou poderes sem precedentes no Império Romano. O Imperador Vespasiano pertencia a essa dinastia e, junto com seu filho Tito, fez uma guerra contra a Judeia, na qual destruiu muitas construções intencionalmente, visando conseguir o seu objetivo de substituir um culto por outro que ele pretendia controlar, como realmente controlou, isso pouco tempo depois de começar a governar em 69 d.C. (ano 822 AUC do calendário romano, ou juliano, usado nessa época).3
O escritor Joseph Atwill em seus livros Caesar's Messiah e The Roman Origin of Christianity mostrou a participação do imperador Vespasiano, que governou Roma de 69 a 79 d.C., na formação do mito de Jesus Cristo, juntamente com seu filho Tito, que governou Roma de 79 a 81 d.C. O livro Caesar's Messiah é uma importante fonte de informações sobre isso, especialmente nos primeiros capítulos, mas depois o livro passa a ser de leitura árdua e perturbadora. Isso não se deve a alguma deficiência do autor, mas porque, segundo a tese dele, muitos acontecimentos sobre a Guerra da Judeia foram relatados de maneira satírica ou cômica nos evangelhos e ele procura mostrar isso. Ele encontrou elementos suficientes para acreditar que o mito de Jesus tem relatos baseados na história de Tito, pois existem sequências de eventos e locais do ministério de Jesus que são praticamente as mesmas da campanha militar desse imperador. As pesquisas a respeito disso já existiam antes mesmo dos trabalhos de Atwill, sendo chamada de The Flavian Hypothesis (A Hipótese Flaviana).4
O objetivo dos flavianos era de substituir os movimentos nacionalistas e militaristas da Judeia por uma religião que fosse pacifista e que aceitaria a dominação romana, evitando a propagação de ideias revolucionárias pelo Império Romano e reduzindo a possibilidade dos descendentes de César tomarem o poder. Tito também queria ser adorado como um deus e os judeus não aceitavam isso, o que também contribuiu para sua decisão de combatê-los. Os judeus não reverenciavam nenhum ser humano como sendo o Senhor (Deus) e ao se criar o mito de Jesus isso poderia mudar. Tito fez ameaças antes da destruição da Judeia que posteriormente se consumaram, e essas ameaças foram adicionadas ao mito como sendo de Jesus, como será visto a seguir. As descobertas de Atwill complementam os fatos descobertos por Carotta a respeito.5
Flávio Josefo (37–100 d.C.) foi um historiador que nasceu e cresceu na Judeia com o nome Yosef ben Mattityahu ou José ben Matitiau (José, filho de Matias ou Mateus). José, segundo sua própria biografia, descendia de sacerdotes por parte de pai e fazia parte da realeza por parte de mãe e, como Jesus, foi uma criança prodígio, que impressionava os anciões com seu conhecimento da lei judaica. Ele também chegou a ser membro de uma seita judaica. Ao se tornar adulto, ele foi o comandante do exército revolucionário da Galileia que estava em guerra contra os romanos na revolta de 66 d.C. Ele foi capturado e levado até o então general Vespasiano se apresentando como um profeta. José então disse que as profecias judaicas se referiam a Vespasiano, que iria ser o ‘senhor de toda humanidade’. Quando Vespasiano se tornou imperador, ele recompensou José por ter feito a profecia adotando-o e José passou a se chamar Flávio Josefo, o filho de César.
Os evangelhos descreveram de maneira apocalíptica, como se ainda fosse acontecer, a destruição que já acontecera na guerra da Judeia.
Depois que Jerusalém foi destruída, Josefo foi morar com os membros da dinastia Flaviana em Roma, onde ele tinha a proteção de Vespasiano e de seus filhos Tito e Domiciano. Como historiador ele escreveu A Guerra dos Judeus e Antiguidades Judaicas. Josefo foi encarregado de ajudar na preparação dos textos que fariam parte dos evangelhos para convencer a todos que eram autênticos, pois simulavam terem sidos escritos muitos anos antes por discípulos de Jesus e assim seriam recebidos como proféticos, o que realmente aconteceu. Essas frases que Josefo usou se encontram em Lc 19:44 “...e não deixarão em ti pedra sobre pedra” e em Mt. 25:13 “Portanto, vigiai, pois não sabeis o dia, tampouco a hora em que o Filho do homem chegará”. Isso tudo já tinha acontecido, especialmente com o Templo e com a cidade de Jerusalém em geral, quando Josefo escreveu essas frases. Em Mt 24:34 há a afirmação de que esses acontecimentos viriam ainda naquela geração para castigar os pecadores. Como uma geração na época durava cerca de 40 anos, e a destruição de Jerusalém aconteceu em 70 d.C., isso servia perfeitamente para que acreditassem que se cumpriu a profecia que supostamente teria acontecido por volta do ano 30 d.C. A data de nascimento de Jesus teria acontecido 100 anos após o nascimento de Júlio César. A ficção também citava nomes de personagens reais que tiveram influência na época que teriam acontecido os fatos relatados.
Segundo Atwill, as ‘profecias’ de Jesus incluíam repetidas advertências feitas sobre a vinda do ‘Filho do Homem’, um título usado no VT por Daniel para a vinda de um Messias, e não necessariamente Jesus. Tito (junto com Vespasiano) foi apresentado como sendo esse Messias, que teria cumprido a ‘profecia’ e castigado os que se desviram dos preceitos de Jesus, que sugeria a obediência ao poder de Roma, ao contrário do que o povo da Judeia fez, principalmente por questões religiosas. Durante algum tempo Vespasiano e Tito foram aceitos como Messias, mas após o declínio do poder da dinastia Flaviana eles foram esquecidos.5
Os cristãos davam muita importância ao suposto acerto nas profecias de Jesus, principalmente os antigos até o século 19, mas a partir do século 20 essas profecias passaram a ser encaradas como ainda não cumpridas ou mesmo sendo ignoradas. Atualmente existem seitas que acreditam na volta de Jesus ou em ameaça de destruição para breve, entre outras crenças.
A origem romana do cristianismo
Tanto Atwill como Carotta ressaltam que o cristianismo primitivo, em suas estruturas da igreja, de autoridade, seus sacramentos, colégio dos bispos, o título do líder da religião, o Sumo Pontífice, tudo isso foi baseado em tradições romanas e não judaicas. A língua oficial do Vaticano continua sendo o latim. Carotta cita em seus textos inúmeros latinismos que encontrou nos evangelhos especialmente no de Marcos. Um símbolo da revolução de César e do Império Romano era o costume de escrever os textos em folhas semelhantes a livros, os códices ou códex. Os códices eram planos como as folhas de um livro e dessa forma foram escritos os primeiros textos cristãos, ao contrário das escrituras judaicas e as de fora do Império, que eram feitas em rolos. Os primeiros cristãos se diferenciavam por usarem os códices, sendo esse mais um indício da origem romana da crença. Os papiros, que eram enrolados, de um modo geral continuaram a serem feitos em maior quantidade que os códices até o terceiro século. Atwill lembra que a origem romana também explica por que tantos membros de uma família imperial romana, os Flávios, estavam entre os primeiros registrados como cristãos: “os Flávios estavam entre os primeiros cristãos porque, depois de ter inventado a religião, eles eram, de fato, os primeiros cristãos”.
Uma família muito ligada à religião
O cristianismo não foi o único culto difundido pelos Flávios. No ano 80 Tito estabeleceu o culto de seu pai, falecido no ano 79. O culto de Vespasiano deificado foi promovido por todo Império. Quando a irmã de Tito, Domitila, morreu, ela também recebeu o processo de deificação e o seu culto começou. O próprio Tito, além de administrar as religiões criadas, era um profeta e também recebeu o título de Pontifex Maximus, o mesmo título que os Papas receberam posteriormente. Após a morte de Tito, seu irmão Domiciano tratou de deificá-lo e ele mesmo procurou ser considerado divino.6
O membro mais conhecido dos “Flávios Cristãos” foi Clemente I. Ele é descrito na Enciclopédia Católica como “o primeiro papa a respeito de quem alguma coisa definitiva é conhecida”, porque ele deixou textos conhecidos. Para alguns cristãos antigos Clemente I foi o sucessor de Pedro e classificá-lo como o quarto papa se deve a erros de interpretação que Atwill esclarece. Ele menciona que havia entre os judeus que enfrentaram Tito um líder religioso de nome Simon (Simão), que foi preso e após ordenar (na religião) um membro da família dos Flávios, foi condenado à morte. Entretanto, nos textos preparados por Josefo ele foi caracterizado como Simão, o discípulo de Jesus posteriormente descrito como o primeiro papa, que depois receberia o nome de Pedro.7
No capítulo anterior ressaltamos que somente uma pessoa ou grupo de pessoas com enorme poder poderia remover uma crença já estabelecida e substituí-la por outra sem permitir contestações. Vamos completar mencionando que somente um grande acontecimento histórico poderia originar tal crença já estabelecida. Ora, o maior personagem da história antiga foi Júlio César e o maior acontecimento histórico foi seu assassinato seguido de seu funeral. A seguir mostraremos os fatos sobre a deificação de César e também de Otávio Augusto, que deram origem ao mito de Jesus. Atwill encontrou semelhanças entre os prodígios atribuídos a um religioso judeu de nome Eleazar, mencionado por Josefo, e alguns milagres de Jesus Cristo, mas vamos mostrar principalmente as semelhanças citadas por Carotta, com origem em Roma.
Vamos considerar que houve duas épocas fundamentais na formação do mito. A primeira época se iniciou após a morte de César em 44 a.C. e durou aproximadamente até o início do reinado de Vespasiano em 69 d.C. Nesse período não existia o mito de Jesus, mas sim textos sobre Júlio César e Otávio Augusto deificados e seus cultos. A segunda época começou com o imperador Vespasiano e depois com seu filho Tito que reinou até 81 d.C. Eles usaram os textos que se referiam a César e Otávio deificados e adaptaram tudo como sendo sobre Jesus e, com o poder absoluto que tinham, acrescentaram muito mais e até nomearam o primeiro papa real, Clemente I, pois Pedro como papa faz parte da literatura fictícia deles.
Sobre Júlio César
Caio Júlio César (100-44 a.C.) se destacou como militar, político, administrador e religioso. No prefácio do antigo livro Caesar's Character, o autor mencionou que foi motivado a escrever o livro pela seguinte frase (traduzida) de seu professor de latim: “O caráter de César nunca foi satisfatoriamente explicado, mas, sem dúvida, ele foi um dos maiores monstros que já viveu”. No início de outro antigo livro, Life of Julius Caesar, há a seguinte citação do filósofo Francis Bacon sobre César (traduzida): “Ele foi, sem dúvida, de uma mente muito nobre...”. Na divulgação do livro de Joel Schmidt, Júlio César, é citado que César “utilizou todos os seus dons para derrubar a República romana, cultivando sucessivamente ou ao mesmo tempo o cinismo e a clemência, a crueldade e a cortesia, a hipocrisia e a civilidade, a esperteza e a sinceridade, a modéstia e o orgulho”. Sem entrar na questão do caráter de César, vamos ressaltar as passagens que o levaram a ser deificado. Outros personagens históricos famosos anteriores a ele, como Ciro, o Grande e Alexandre, também foram deificados, mesmo alguns tendo sido cruéis.1
César, o alto sacerdote de Júpiter, e Sula, o ditador de Roma deificado
O pai de César morreu em 85 a.C. e César com dezesseis anos se tornou o chefe da família. Nessa época, houve a segunda guerra civil entre Mário e Sula. No ano seguinte, Mário e seu aliado, Lúcio Cornélio Cina, estavam no controle da cidade e César foi designado como Flamen Dialis (alto sacerdote de Júpiter), e se casou com Cornélia, a filha de Cina. Após a morte de Mário houve a vitória de Sula, que se proclamou ditador em 82 a.C., César foi despojado de sua herança, do dote de sua esposa e de seu sacerdócio, mas ele se recusou a se divorciar de Cornélia e teve de se esconder. Mais tarde, Sula retirou as ameaças contra César graças à intervenção das vestais virgens e de outros. No seu desfile de triunfo, Sula foi chamado de ‘salvador’ e ‘pai da pátria’. Ele se autoproclamou ditador e se intitulou Epafrodito (favorito de Afrodite), que corresponde à deusa romana Vênus.2
César seguiu a carreira militar e ganhou a coroa cívica por sua participação em um cerco importante. Após a morte de Sula em 78 a.C., ele retornou para Roma e tornou-se advogado. Os generais Mário e Sula podem ter influenciado César, pois, depois que conseguiram o poder através da violência, eles procuraram se mostrar mais populares e realizadores. César deve ter desde cedo admirado e odiado Sula ao mesmo tempo e talvez almejasse imitá-lo.
Em 73 a.C. César tornou-se pontífice, cargo que lhe dava alguma autoridade política e religiosa. Em 69 a.C. morreram a tia dele, Júlia Cesáris, viúva de Mário e a esposa Cornélia. César fez discurso fúnebre para ambas. No discurso sobre Júlia Cesáris, César declarou, entre outras coisas, que seus ancestrais descendiam da deusa Vênus. Como as famílias aristocráticas realizavam funerais públicos onde atores com máscaras dos ancestrais mais destacados faziam parte das procissões, ele providenciou imagens de cera de Mário para isso. César tinha sido nomeado questor e partiu para a Espanha Ulterior (Andaluzia e Portugal) para administrar e arrecadar impostos, em conjunto com o governador local. A sua participação como questor incluía executar tarefas que o governador normalmente faria, como ouvir pedidos, resolver problemas e promover a justiça. Talvez por sua atuação benéfica nessa região ele acabou sendo reverenciado com destaque após sua morte. Isso explica porque as procissões da Semana Santa em pequenas cidades da Espanha seguem o relato histórico do funeral de César e não os evangelhos. O próprio César declarou que “deu a essa província tratamento extra especial e que providenciou todos os benefícios que estavam ao seu alcance”.3
César dominava o ofício de carpinteiro
Em 65 a.C. em Roma, depois de muitos acontecimentos importantes, César foi eleito aedile (edil), que tinha a responsabilidade da manutenção de templos e outras construções públicas. Em 63 a.C. ele tornou-se pontífice máximo, que era o mais alto cargo na antiga religião romana. De acordo com a interpretação habitual, o termo pontifex significa literalmente construtor de pontes. César tinha o conhecimento necessário e, durante as guerras, sob seu comando foram construídas pontes de madeira. Ele comandou a construção de uma ponte militar de madeira sobre o rio Reno feita em 10 dias (segundo o relato dele mesmo). Em Mc 6:1-6, Jesus é citado como carpinteiro, mas a palavra tekton, em grego, que aparece nos evangelhos se referia ao que tinha conhecimento e que podia construir tudo, até pontes de madeira.
A clemência de César: “Vamos... nos amar uns aos outros,... e nascer de novo”
Em 48 a.C., depois de muitos acontecimentos importantes, houve o fim de uma guerra civil no Império Romano, após César derrotar seu inimigo Pompeu, que fugiu para o Egito e foi assassinado. César se tornou poderoso e passou a defender a prática da clemência para os inimigos derrotados, a Clementia Caesaris. Seguindo esse princípio, havia a tendência dos envolvidos em minimizar o ocorrido, evitando mais guerra civil. A seguir temos uma frase que se encontra em duas cartas que ele enviou a amigos: “Que esta seja a nova política de vitória que nos arme com misericórdia e liberalidade”.4
A imagem de César na procissão anual
Pompa circense (em latim: pompa circensis), na Roma Antiga, era uma procissão que precedia os Jogos Romanos (em latim: Ludi), que eram divertimentos públicos realizados no circo como parte dos festivais religiosos. A procissão, que era similar ao Triunfo romano, tinha imagem de deuses romanos e começava no Capitólio, passava em frente ao Fórum Romano, prosseguindo lentamente ao longo da Via Sacra e depois chegava ao Circus Maximus. Durante a ditadura de Júlio César, a procissão incluiu a sua própria imagem sendo conduzida por carruagem (há também a versão de que a imagem dele somente foi incluída após a sua morte). A propensão dele em usar seus trajes triunfais em demasia foi considerada como um dos sinais de suas intenções monárquicas.5
Carotta menciona também uma certa evolução naquela época na representação de César como pacificador e guia espiritual em pinturas e estátuas, como nas imagens a seguir:
Na esquerda aparece uma representação de César considerada mais antiga. À direita uma representação posterior da face dele na qual, por computador, foi acrescentada uma coroa, ficando com a aparência que provavelmente tinha nas representações citadas por Apiano (houve a inclusão de auréolas após a morte dele, conforme será explicado mais adiante). Mesmo antes de sua morte, César já recebia de seus partidários as honras não oficiais de culto como sendo divino, e havia designado Marco António para ser o seu sacerdote. Segundo Cássio Dio, o Senado tinha decidido que César seria proclamado Iupiter Iulius e que um templo seria consagrado a ele e à sua Clemência, elegendo António, o seu sacerdote, como o flamen Dialis.7
Quem foi Fúlvia, a esposa de Marco António
Fúlvia (79-40 a.C.) foi a única neta e herdeira de Caio Graco, reformador que tinha apoio popular. Ela era rica e foi a primeira mulher (não mitológica) a ser representada em moedas romanas. Ela é citada como uma mulher ambiciosa e de personalidade forte. Durante um breve período em 41 a.C. Fúlvia com seu exército chegou a dominar a cidade de Roma. Fúlvia foi casada com Publius Clodius, que tinha passado de adversário a amigo de Júlio César, mas foi assassinado por seus inimigos. Após sua morte, Fúlvia expôs o corpo ensanguentado e com todas as marcas de facadas ao povo, provocando uma rebelião contra os seus inimigos. Essa morte se transformou em vitória para o grupo da vítima. Fúlvia depois se casou com Caio Escribônio Cúrio, que a serviço de César, morreu em uma guerra no Egito. Como não tinha o corpo de Cúrio, ela somente pode fazer um funus imaginarium (funeral simbólico) em Roma, para o qual, de acordo com o costume da época, uma imagem em cera do tamanho real de Cúrio foi mostrada, em vez do corpo desaparecido. Depois disso ela se casou com Marco António.
César assassinado e sua representação até hoje
Para evitar que César se tornasse um ditador, foi organizada uma conspiração para o seu assassinato, na qual participaram seus inimigos e alguns dos seus antigos amigos. Ele foi assassinado em 15 mar. 44 a.C. e logo após o assassinato alguns conspiradores saíram pelas ruas de Roma anunciando que o povo estava livre da ameaça dele se tornar ditador. O corpo de César ficou estendido por um tempo exagerado no chão e ninguém sabia como proceder naquela situação. Esse fato deve ter sido a origem de que os católicos e outras religiões cristãs antigas tenham até hoje ritos em que seus sacerdotes deitam no chão por determinado tempo. Finalmente, três homens carregaram o corpo de César até onde ele morava e o colocaram no colo de sua esposa Calpúrnia, que o sustentou como mostra a estátua Pietá de Michelangelo. Entretanto, para os católicos quem aparece é Maria sustentando Jesus, em uma cena que não consta na Bíblia.
O funeral de César e a paixão de Cristo
F. Carotta demonstra no texto Liberalia Tu Accusas, que o funeral de Júlio César foi realizado no dia 17 de março. O funeral de César deve ter sido planejado por Fúlvia, pois foi uma reprodução do funeral de Clodius combinado com o de Cúrio. O corpo de César não era bem visível por estar dentro de um esquife fúnebre cujas laterais representavam o templo de Vênus Genetrix e, por causa disso, colocaram sobre o esquife um tropaeum apoiado em um mecanismo giratório. O tropaeum era uma cruz de madeira, que normalmente exibia em Roma a armadura e vestimenta de um inimigo derrotado. Uma estátua de cera de César foi erguida nesse tropaeum, como a de um crucificado, ficando inicialmente coberta com uma manta. Então Marco António fez seu discurso ao povo, mencionando que César declarou o seu filho adotivo Otaviano como seu herdeiro e que deixou em seu testamento uma quantia considerável para ser dividida entre o povo. Depois do discurso, com uma lança, António removeu a manta que cobria a estátua de César, mostrando todos os 23 golpes de punhal sofridos por ele e os seus sangramentos. Com o mecanismo, todos podiam ver essa estátua girando. Ao ver a cena, a multidão ficou enfurecida, mas todos seguiram em um cortejo fúnebre até o Fórum onde foi feita a cremação do corpo de César, em uma pira improvisada feita de madeira encontrada nas redondezas. A representação desse cortejo fúnebre passou a ser parte das comemorações do Divus Iulius, até que mudou de nome e passou a ser conhecida como Paixão de Cristo. O sacerdote espanhol Pedro G. Gonzalez se tornou divulgador da descoberta de ser essa a origem da procissão da Paixão de Cristo, tradicional nas pequenas cidades espanholas, mas que não consta na Bíblia.8
Depois da cremação o povo correu selvagemente com tochas em direção às casas dos conspiradores com intenção de incendiá-las, perseguiu os assassinos e devastou o local onde César foi assassinado. Como parte das celebrações da Páscoa, em muitos lugares da Europa se acende uma grande fogueira diante das igrejas em comemoração à ressurreição de Cristo. Em alguns desses lugares os assistentes introduzem esse fogo na igreja. Há também semelhanças dos acontecimentos citados com o costume da ‘malhação do Judas’, que não consta na Bíblia, mas é comum entre os países latinos que seguem as tradições mais antigas.
A trindade, o ritual com pão e vinho e ressuscitar na versão romana
No dia do funeral de César, 17 de março, era comemorada a festa da Liberália, do deus Liber Pater, antigo deus romano da fertilidade e do vinho que correspondia ao deus grego Dionísio, que na versão romana era chamado de Baco. Ele fazia parte da tríade plebeia Liber, Libéria e Ceres. Cícero descreveu Ceres como mãe dos outros dois deuses. Durante a Liberália havia a distribuição de pão e vinho, entre outros alimentos. Um ritual simbolizava a carne e o sangue de Deus, porque um mito de Dionísio relata que ele foi morto e devorado por titãs. Outro mito relata que Zeus alimentou o coração da mãe de Dionísio e ele renasceu sendo assim chamado de ‘o deus duas vezes nascido’. Nos dias 16 e 17 de março também eram realizadas as procissões de Argei, de significado obscuro, que tinha a participação de pontífices, vestais e pretores e seguia em um circuito com 27 estações. Os rituais da Liberália, resumidos acima, provavelmente deram origem aos rituais semelhantes praticados nas missas católicas. Da mesma forma, o renascimento de Dionísio corresponde ao mito do renascimento de Jesus.10
Última Ceia, Eucaristia e transubstanciação
O poeta Hélvio Cina, antes do assassinato, sonhou que seu amigo César o convidava para sentar-se à mesa, mas ele não aceitou e por isso foi expulso. No sonho, César fez uma refeição que seria sua Última Ceia. Impressionado com o sonho, Cina foi ver o corpo de César sendo cremado. A multidão, talvez confundindo ele com um conspirador, o matou e o esquartejou. Há semelhança entre o assassinato de Cina e um ritual da Liberália de esquartejamento. Há semelhança também entre esse ritual e a eucaristia (considerando esta como uma representação simbólica) e com a transubstanciação (que não está na Bíblia).11
Marco António foi proclamado flamen Divi Iulii
Junto com o culto não oficial de César, que houve antes da sua morte, Marco António também cultuava o deus Dionísio. Dois anos após a morte de César, o senado romano proclamou António como flamen Divi Iulii (sacerdote do divino Júlio). Com o tempo, António voltou a cultuar principalmente o deus Dionísio. Ele e Fúlvia passaram a controlar tudo que se referia a esse deus e fizeram isso antes mesmo da proclamação. Eles previam que António seria tratado como um novo Dionísio, o que posteriormente realmente aconteceu durante algum tempo.12
J. Atwill chama de tipologia ao uso, nos textos, de semelhanças em contexto diferente. Ele mostra alguns exemplos retirados do Velho Testamento. Uma semelhança se encontra no relato de Josefo em que ele estava em uma missão, quando viu entre alguns crucificados três conhecidos. Serão mostradas em outro capítulo as semelhanças desse episódio com o descrito nos evangelhos envolvendo José de Arimateia. A seguir citaremos coincidências entre acontecimentos em Roma e os mencionados nos evangelhos.
F. Carotta citou mais coincidências
A prisão de Jesus se deu em um jardim, enquanto César passou pelo Teatro de Pompeu e daí para uma espécie de horto ou jardim, onde apenas o cercaram antes do assassinato. Há explicação sobre um presépio referente ao nascimento de Otávio, com a presença de um boi e um asno. Por outro lado, em várias igrejas da Espanha e outros países, inclusive o Brasil, são encontrados esquifes iguais ao descrito no funeral de César. Quando César ainda estava vivo e no poder, foi chamado de chrêstos (bom) por Pompeu.1
As palavras Calvário, Gólgota e Capitólio
As palavras Calvário e Gólgota se basearam no nome Capitólio em Roma, local do templo de Júpiter com a Tríade Capitolina – os deuses Júpiter, a sua companheira Juno e a filha de ambos, Minerva. Pela antiga tradição, a palavra Capitólio se originou de caput (cabeça), pois durante as escavações para a construção do templo de Júpiter foi encontrado um crânio isto é, uma caveira, que nos evangelhos recebeu o nome de Calvário ou Gólgota (lugar da caveira).2
O Cordeiro de Deus, o ‘Servo Sofredor’ e a subida ao monte
No dia do assassinato de César foi sacrificado um cordeiro branco a Júpiter, o Cordeiro de Deus, pois havia o costume de ser feito isso todos ides (dia 15) de cada mês.3
Os judeus foram importantes aliados de César durante a guerra dele contra Pompeu, que em 63 a.C. havia desrespeitado o templo de Jerusalém. Os judeus comemoraram e glorificaram César após sua vitória. Apareceram interpretações messiânicas de textos que se referiam a César, mas que muito tempo depois seriam usadas para Jesus. Nas lamentações pela morte de César os judeus mencionavam as tradições do Servo Sofredor (Isaías 53) e que ele preenchia as características de um Messias.
César subiu de joelhos o monte Capitolino (querendo ser perdoado) para chegar ao templo de Júpiter.
Frases conhecidas de César e as dos evangelhos 4
“Tens medo de quê? Tu estás conduzindo César” - palavras com que César encorajou o comandante de um navio durante uma tempestade.
“Quem não está em qualquer lado, está do meu lado” - frase de César, ao se encaminhar para Roma, avisando que quem ao menos ficasse neutro, seria considerado seu aliado. Isso aconteceu no início da guerra civil contra Pompeu, que estava em Roma e avisou que trataria como inimigos aqueles que não pegassem as armas para defender o governo que ele controlava.5
“A melhor morte é uma morte súbita” - frase de César na noite antes de morrer – ele jantou com Lépido, o Mestre de Cavalaria (que depois da morte de César faria parte do segundo triunvirato) e a conversa foi sobre os tipos de morte.
Júlia Maria, a tia de Júlio César e Maria, mãe de Jesus
A tia de César, Júlia Cesáris (130-69 a.C.) foi casada com o general Mário, do gens (família) Mária e, segundo a Wikipédia em alguns idiomas, ela também é conhecida como Júlia Maria. O culto de Júlia Cesáris foi estabelecido por iniciativa de Júlio César, após a morte dela. Como a mãe de César não teve a mesma celebridade que a tia dele, seria lógico que em uma representação simbólica da vida de César a tia aparecesse como sendo a mãe e possivelmente com o nome de Maria.6
Marco António e Pedro: as coincidências do nome
Carotta encontrou equivalência entre os nomes Marco e Simão, pois como especialista no assunto, ele analisou a origem das palavras e citou também que Marcus era um nome tipicamente romano. Atwill em seu livro detalhou as suas pesquisas sobre a origem de Pedro. Há outra coincidência. O dicionarioweb mostra um dos significados da palavra ‘Marco’, em português: Pedra oblonga, com que se demarcam terrenos. Qualquer pedra, de situação natural, e que se aproveita para sinal de limites territoriais. Baliza, limite: fronteira. No Google tradutor, de latim para português temos marcus = marca.
Como Pedro nos evangelhos, Marco António negou três vezes a divindade
A disputa entre António e Otávio, depois da morte de César, terminou em um confronto militar em que António foi derrotado e fugiu para os Alpes. Como Otávio proclamava ser o Filho de Deus, Divi filius, vamos considerar essa a primeira negação à divindade. Posteriormente eles se tornaram aliados e foi formado o triunvirato composto por eles e Lépido. Eles venceram os exércitos de Bruto e Cássio. Depois António foi morar com Cleópatra no Egito. Posteriormente ele se dirigiu a Roma para enfrentar Otávio que estava em guerra contra Fúlvia e seu irmão. Essa foi a segunda negação à divindade. Pouco antes de entrar nessa guerra, António foi informado por seus aliados que Fúlvia era a culpada pela crise e não atacou. Após o falecimento dela, houve um acordo entre eles: António se casou com a irmã de Otávio e dividiram o império de Roma. Depois houve outra guerra entre eles na qual António e Cleópatra estavam juntos de novo e foram derrotados. Essa foi a terceira negação à divindade. Muitos soldados viram António fugir (como Pedro no Evangelho) durante a batalha naval contra Otávio e eles mal podiam acreditar no que viam. Depois disso António e Cleópatra acabaram se suicidando. J. Atwill encontrou outros eventos que poderiam ser mencionados como negar três vezes a divindade.
Cícero e Fúlvia e as semelhanças com João Batista e Salomé
Para F. Carotta, os personagens romanos que se assemelhavam ao episódio em que João Batista foi decapitado por causa de Salomé, eram Pompeu e César. Há ainda maiores coincidências envolvendo Cícero e Fúlvia, como será mostrado a seguir. Como já foi citado, o primeiro marido de Fúlvia, Clodius, foi morto em uma briga contra uma facção rival comandada por Milo, que era apoiado por Cícero. Fúlvia conseguiu vingar a morte do marido, mas não pôde enfrentar Cícero e assim começou seu ódio por ele. Cícero pediu ao Senado para declarar Marco António inimigo do estado, o acusava de ser dominado por Fúlvia e denunciou que ela tinha prazer em observar a execução de inimigos. Em 43 a.C. Cícero acabou assassinado e seguindo ordens de António, as suas mãos foram cortadas e pregadas, juntamente com a sua cabeça, no Rostra (plataforma criada para discursos) de acordo com a tradição de Mário e Sula, que tinham feito o mesmo às cabeças dos seus inimigos. Cássio Dio escreveu que Fúlvia golpeou a cabeça de Cícero com seu gancho de cabelo, antes de ser levada ao Rostra.
Fúlvia participou do funeral de César e em Mc 15:40 é mencionada uma Salomé presente na crucificação de Jesus.
Nicomedes rei de Bitínia e amigo de César: mais coincidências
Nicomedes IV era o rei de Bitínia, que acolheu César em seu reino e por causa da sua amizade César foi criticado por seus inimigos.
Maria Madalena e a sua semelhança com Cleópatra
Ao se estudar a origem do mito de Jesus, a versão católica deve prevalecer por estar mais ligada à real origem do mito, sendo válida a tradição popular. Maria Madalena na tradição católica foi uma pecadora, mencionada até como companheira ou esposa de Jesus. Isso corresponde à rainha Cleópatra, amante de César, que vivia em Alexandria. Atwill lembra que seria impossível todas mulheres com esse nome serem a mesma pessoa. Ele comenta também sobre a ilógica da descrição diferente em cada evangelho de Maria Madalena visitar a tumba a diferentes horas e com diferentes companhias, tocar e não tocar Jesus e de dizer e não dizer aos discípulos sobre a Ascensão de Jesus. Essa discrepância de textos dos evangélicos também aparece nas descrições dos últimos momentos de Jesus antes de morrer, encontradas nos quatro evangelhos.
A escolha entre o Bom e o Mau na versão Romana
O povo de Roma apoiava César, que se uniu a Clódio considerado mau cidadão e expulsou Cícero que era considerado bom. A seguir temos o texto em que Plutarco descreve isso:
O justo se encontra com o explorador do povo
César era do partido popular e era estimado pelo povo, mas tinha uma dívida que foi cobrada por seus credores e ele não tinha como pagar. Então ele se encontrou com Crasso, que era o homem mais rico de Roma considerado explorador do povo devido principalmente a procedimentos desleais, por envolver a compra, por preços baixos, de casas que sofreram incêndios e também as casas próximas, e depois reformá-las, valorizando-as. Crasso quitou as dívidas de César na época. Depois disso houve um acordo entre eles que culminou na formação do triunvirato junto com Pompeu.
O deus Apolo, Jesus e Augusto
O nome do Programa Apollo se originou do deus Apolo, que tem semelhanças com Jesus. Apolo também era filho da divindade suprema que era Zeus. Acharya S escreveu um artigo mostrando a diferença dos títulos entre Jesus Cristo, o Christos, e Apolo, o Chrēstos, embora ambas palavras significassem ‘Bom’. Ela também comentou, nesse e em outro artigo, sobre uma citação do historiador Suetônio, sobre um tal de Chrēstos judeu, que causou distúrbios e foi expulso de Roma durante o reinado de Cláudio, mostrando que ele não poderia ser Jesus, como alguns alegam. Ela mencionou que a palavra grega correspondente a Chrēstos foi usada na antiguidade relacionada a muitas divindades.9
A seguir mostramos um trecho de Suetônio descrevendo o denominado “banquete das doze divindades” ou "ágape secreto de Augusto", que se refere aos doze deuses do Olimpo, mas que tem semelhanças com a Santa Ceia:
Na mensagem, escrita quando eram amigos, António repreende Augusto, se colocando como exemplo a ser seguido.
Junius Brutus e Judas Iscariotes: as semelhanças
Junius Brutus (Júnio Bruto), corresponde a Judas nos evangelhos, pois ambos foram considerados traidores e acabaram se suicidando. A semelhança dos nomes também é visível. No latim, a palavra ‘assassino’ é sicarius que veio de sica cujo significado é punhal e Iscariotes provavelmente se originou dessa palavra.10
A prisão de Catão e seu silêncio
Plutarco descreve em Vidas Paralelas. Alexandre e César que quando foi preso Catão permaneceu em silêncio. A seguir um trecho do texto de Plutarco:11
Gaius Longinus, Centurião Longino e São Longuinho
O principal conspirador e um dos que apunhalaram César foi Gaius Cassius Longinus (Cássio Longino). Nos evangelhos o centurião Longino perfurou com uma lança Jesus crucificado (O evangelho original de Marcos menciona machaira, um punhal maior que o normal). Atualmente Longino é considerado santo: São Longino ou São Longuinho, comemorado em 15 de março, mesmo dia da morte de César. Por outro lado, Jesus supostamente morreu em 15 de Nisan (calendário judaico).
Por ser da tradição católica, o Longino dos evangelhos chega a ser citado com o mesmo nome e sobrenome do conspirador na Wikipédia, Longino, em italiano (traduzido):
Frase de Tibério Graco e uma frase de Jesus
Frase de Tibério Graco citada em Vidas Paralelas de Plutarco:
"Os animais selvagens da Itália possuem cada um a sua toca, seu abrigo, seu refúgio; mas os homens que combatem e morrem pela Itália não dispõem de outro bem senão a luz e o ar e nada mais."